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Astronáutica - parte 3



Até o início de outubro de 1957 o mundo ainda vivia os anos do pós-guerra e os Estados Unidos eram considerados a única superpotência militar e tecnológica. As nações européias ocidentais estavam sob o guarda-chuva protetor do amigo americano e viam os seus impérios seculares desaparecerem sucessivamente.

Além da Cortina de Ferro de Winston Churchil vivia-se num mundo de repressão e medo. Saídos do conflito mundial como os grandes vencedores, os Estados Unidos e o mundo ocidental em geral consideravam a União Soviética um país rural, com um nível industrial pouco desenvolvido e arrasado pela guerra na qual perdeu milhões de cidadãos.Toda esta perspectiva mudaria em 4 de outubro daquele ano, quando a notícia do lançamento do primeiro satélite artificial rachou ao meio o orgulho americano.

O sentimento entre o choque e a paranóia acentuou-se no mês seguinte, quando o Sputnik 2 orbitava o planeta transportando a cadela Laika. A observação noturna do Sputnik tornou-se um passatempo a nível mundial e a imprensa comentava os lançamentos do inimigo em termos do prestígio americano.

O avanço soviético foi-se alargando à medida que os fracassos americanos iam ocorrendo, tais como a transmissão ao vivo do malogrado Vanguard, que caiu sobre a plataforma de lançamento após se elevar meros centímetros. Sem mencionar as falhas das sondas lunares Pioneer 1 a 4 entre 1958 e 1960.

Início comprometido
A UNIÃO SOVIÉTICA, AO CONTRÁRIO, CHEGAVA À LUA com a sonda Luna 2, recebendo as primeiras imagens do lado oculto através da Luna 3. Sendo todos eles satélites lançados por veículos derivados dos mísseis balísticos intercontinentais, o avanço soviético nesta área sublinhava ainda mais o receio da existência do famoso missil gap entre os dois países. Um receio bem explorado por Kennedy na campanha presidencial em 1960.Toda a verdade surgiria a partir do dia 18 de agosto de 1989, quando o jornal Izvestya publicou uma série de artigos nos quais a União Soviética finalmente reconheceu a existência do seu programa lunar tripulado.Passados agora tantos anos, e apesar de haver um ou outro pormenor por esclarecer, ficou claro que as rivalidades pessoais, as sucessivas mudanças nas alianças políticas e a ineficiência burocrática, condenaram desde o início o programa lunar soviético.


O feito de Gagarin
LANÇADOS AMBOS OS PAÍSES NA DISPUTA PELOS CÉUS além da nossa atmosfera, não era bem definido o rumo que se poderia tomar. O presidente Dwight Eisenhower (1890-1969) recusou constantemente financiar uma corrida espacial tendo somente por base uma justificação política.

No entanto, em 1 de outubro de 1958 é estabelecida uma agência espacial civil como objetivo de planejar o futuro americano no espaço. A National Aeronautics and Space Administration (Nasa), apresenta em sete dias um plano para colocar no espaço um astronauta, de preferência antes dos soviéticos. Assim nasceu o Programa Mercury.



Com a eleição do presidente norte-americano John F. Kennedy (1917-1963), no ano de 1961, as motivações políticas logo iriam dar novo impulso ao programa espacial americano.

Porém, ainda antes disso o mundo seria mais uma vez surpreendido por um feito espetacular da União Soviética, quando Yuri Alexeievich Gagarin (1934-1968) tornou-se o primeiro ser humano a orbitar a Terra, em 12 de abril do mesmo ano. O presidente Kennedy logo percebeu a base de apoio necessária para lançar o país numa corrida à Lua.

Assim, em 25 de maio de 1961, Kennedy pronuncia o famoso discurso onde afirma que sua nação deve atingir o objetivo de colocar um homem na Lua e fazê-lo regressar à Terra em segurança antes do final da década.

Descentralização
NA UNIÃO SOVIÉTICA OS LANÇAMENTOS ACONTECIAM num nível não imaginado e obviamente no ocidente só surgiam notícias dos sucessos. Todos eles utilizavam derivados do míssil R-7 Semyorka (Pequeno Sete), que foi o primeiro Míssil Balístico Intercontinental (MBIC). No entanto, seu desempenho como MBIC era medíocre, ao contrário do seu valor como lançador orbital.

Os R-7 foram desenvolvidos pelo projetista Sergei Korolev, um homem misterioso e visionário. Korolev tinha os conhecimentos políticos necessários para gerir os programas que deram origem ao Sputnik, Luna e outras sondas. Da mesma forma desenvolveu a cápsula Vostok que era também utilizada como satélite espião na sua versão militar não tripulada, o Zenit.

Ao contrário do programa espacial americano, o esforço espacial soviético não tinha uma organização centralizada nem tampouco um plano elaborado a longo prazo. A necessidade de uma reforma na estrutura organizacional do programa espacial soviético foi desde cedo apregoada por Korolev.

Mas o líder soviético Nikhita Khrushchev ignorou as sucessivas propostas do projetista, o que resultou no fato do programa estar sempre nas mãos de um sem número de laboratórios não especializados, muitos deles trabalhando para ministérios diferentes.

Continua...

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